A caminho do horizonte.

1.10.2011

Mudei

Agora é aqui:


digam-que-voei.blogs.sapo.pt 


6.30.2010

Peguei na Polaroid e fiquei a olhar para a máquina que tantos momentos registou.

A maquina que captou o meu sorriso quando relembravas em voz alta os nossos melhores momentos. A lente que usavas para tentar captar o brilho dos meus olhos. A lente que eu usava para tentar apanhar aquele teu jeito tão próprio que costumavas fazer com a boca quando eu te divertia. A lente que captou os nossos momentos. As nossas alegrias, as nossas lágrimas...

Lembro-me de quando a compraste e ma ofereceste. Deste-ma num banco de jardim. No nosso banco de jardim. Era uma novidade na altura. Explicaste-me para que servia. Que a podia usar para parar o tempo para sempre. Que podia registar os momentos que quizesse para depois os recordar, e partilhar. E aí fizemos uma promessa: registariamos todos os momentos. Toda a nossa história. Todo o nosso amor.

Passado algum tempo, na nossa primeira discussão percebi que não tinhas entendido a verdadeira dimensão da nossa promessa. Quando captei a lágrima que teimou em escapar da tua cara zangada, vi a tua expressão de confusão. Aí, expliquei-te que se iamos registar a nossa história, não poderiamos captar só os momentos bons. Tinhamos de captar os maus também. Pois era a partir deles que cresciamos. Senão como é que explicariamos a diferença entre uma foto e outra em que existia uma maior cumplicidade nos nossos olhares. Era através da discussão que o tinhamos conseguido.

Pensei que aí tinhas percebido a verdadeira dimensão da nossa promessa, mas ainda estranhaste quando te pedi para levares a Polaroid para o momento do parto da Joana. Afinal, como poderiamos deixar escapar a primeira respiração da nossa filha? do nosso fruto de amor? Captamos tudo o que podiamos captar. Acho que a história ficou bem documentada. As fotos do nosso casamento foram todas tiradas com a Polaroid. As fotos dos baptizados também. Os piqueniques, os recitais...

Milhares e milhares de fotos todas guardadas em caixas e caixas. Hoje, o dia é para isso. Para olhar para 50 anos de fotografias. Uma a uma. Sim, vou reviver cada momento. Vou reviver cada sorriso, cada lágrima, cada beijo, cada festa. Cada vestido, cada dia de férias, cada olhar, cada cumplicidade, cada saída, cada filha, cada neta, cada ruga, cada pingo de sabedoria que nos ía caindo na testa... Penso que sim, que conseguimos a proeza que mais ninguém conseguiu. Que mais ninguém tentou.

E ao guardar a fotografia tirada ontem no nosso último adeus, cai uma lágrima, simbolo de um até já, na minha Polaroid. Na nossa Polaroid. 

2.19.2010

Felicidade


Lembras-te amor?
Dos nossos momentos, das nossas alegrias, das nossas memórias? Estou a falar dos felizes, não dos outros. Lembras-te das nossas conversas? Das nossas brincadeiras? Das nossas loucuras?
Sabes, a primeira coisa em que penso quando falamos dos momentos felizes é daquele fim de tarde. O Sol punha-se. Era já a lua (cheia) que estava a brilhar e nos iluminava. Nós estavamos a passear pelas ruas, a olhar para as montras. E tu quizeste tornar esse momento inesquecível. Torna-lo especial. Pegaste na minha mão e conduziste-me para o meio da rua. Parecia um filme.
Começamos a dançar. E mesmo sem tempos marcados e coreografias combinadas, o amor fazia os nossos corpos balouçarem-se ao mesmo ritmo. As tuas mãos seguravam-me e faziam-me sentir segura. A tua boca sussurava ao meu ouvido a nossa música. Oh, foi a melhor interpretação que ouvi.
Diz quem lá estava que outros pares se formaram e seguiram o nosso exemplo. Que o trânsito parou. Que as pessoas dos carros se esqueceram da sua pressa e sairam dos carros observando o nosso amor e as nossas ilusões dançarem, numa coreografia que florescia ao longo do tempo. Dizem que o luar branco iluminava a rua qual foco de iluminação. Mas não o posso confirmar. Eu estava lá, é certo. Mas tu também. Logo, eu só tinha olhos para ti. Só via a tua cara. Só te sentia a ti. Aquele momento era só nosso, por muitas pessoas que o estivessem a viver.
A minha boca rasgava-se num sorriso tal...
Não costumo dar nomes às coisas, mas há quem lhe chame FELICIDADE.


[resposta ao desafio proposto pela Joana. Palavras: brilhar, brabco, Felicidade
O desafio consiste em "Ter de escrever um objecto, um verbo, e uma cor. E a partir dessas palavras, as pessoas a quem foi passado o desafio, vão ter de elaborar um texto com elas. Escrevem o vosso texto com as devidas palavras que vos foram passadas, e depois passam o desafio a 5 blogues, que terão de fazer o mesmo, com as palavras que vocês escolheram." ah, e não se esqueçam do selinho!
Passo o desafio à Filipa, à Sara, à Cê éle,à Lara e à Anna
As palavras são: mãos, banco, forte, Beijos Mariana]

2.05.2010

FIM.

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Estava sentada no banco do jardim. A estudar Biologia para o teste. Era uma coisa que gostava de fazer. Espalhar os livros no banco. Era como se estivesse em casa. Mas ali ouvia os pássaros a falarem uns com os outros.
Deviam estar muito concentrados tal como eu, ou então não sabiam as suas intensões porque eles não me avisaram que ele tinha chegado. Não me avisaram quando ele parou para me olhar de alto a baixo e eu não reparei. E depois era tarde demais.
Ele não era como nos filmes. Não se vestia como eles se vestem nos filmes. Mas dava para perceber pelos olhos o que queria. Ainda tentei disfaçar o medo que estava a sentir. Perguntei se o podia ajudar. Ele percebeu mal a pergunta. E eu percebi as suas intenções mais claramente. Todo o meu corpo estremeceu quando ele agarrou nos livros e os arrumou para se sentar à minha beira. Quando me explicou o que faria se eu tentasse fugir. Quando me mostrou a ponta e mola que usaria caso eu fizesse o que estava a pensar fazer. Olhei para todos os lados à procura de alguém. Procurei pelos pássaros mas eles tinham-me abandonado. Tudo estava deserto e silencioso. Tentei perceber o porquê de gostar daquele lugar.
Depois ele tocou-me.E eu fechei os olhos. Senti as lágrimas escorregarem pela minha cara. Estava a preparar-me, se é que isso é possível, para o que iria acontecer a seguir. tentei desligar o meu cérebro. Tentei encontrar a minha alma e voar para longe. Respirei fundo e esperei.
Mas não aconteceu. Ouvi passos e abri os olhos para tentar perceber o que se estava a passar. E vi-te pela primeira vez.
Não me assustaste. Os teus olhos não eram parecidos com os dele. Não ouvi o que lhe tinhas dito mas ele parecia francamente assustado. Quando olhei para a mão dele vi a sua ponta e mola aberta apontada a ti com a mesma ameaça que me tinha sido dirigida. Mas tu não reagiste como eu. Não estavas disposto a abandonar aquela desconhecida que parecia tão familiar. E avançaste. Sabes?, no princípio quis pensar que ele a ia largar e fugir. Mas não. Ele já tinha traçado o seu plano e estava demasiado assustado para o modificar agora. E também avançou. Não percebi muito bem o que se passou a seguir. Reparei que conseguiste que ele mudasse de direcção e estavas à minha frente quando ele enterrou o seu plano em ti. Quando a ponta e mola foi cravada na tua barriga. Quando te vi cair para trás amparado pelos meus braços.
Quando dei por mim estava de joelhos. Tu estavas deitado nos meus braços. Esforçavas-te por respirar. Eu tentava reagir. Mas os teus olhos prendiam os meus.
Passaram poucos segundos mas pareceram horas. Fui acordada pelo canto dos pássaros. Já tinham voltado. Obriguei os meus olhos a percorrerem o local. Ele tinha ido embora. Fugido.
Consegui pensar. Hospital. Liguei. Disse que era uma emergência mas a voz da senhora era tão calma que eu penso que ela não percebeu.
Voltei a olhar para ti. Os teus olhos mostraram-me o que sentias. Vi o teu último suspiro. Vi o teu último bater do coração.
Nem te perguntei o teu nome. Não tive tempo para te agradecer. Não tive tempo para dizer o que sentia por teres salvo a minha vida. Tempo. faltou-me tempo para te conehcer melhor. Faltou-me tempo para perceber quem eras. E no entanto, ali, naquele olhar mostraste tanto. Explicaste tanto. Percebi tanto. Amei-te tanto.
Hoje escrevi o último parágrafo da nossa história de amor.
Nem tempo tivemos para acabar o prólogo.
FIM.

2.01.2010

Why?

And you insist in killing yourself.

1.16.2010

Querido Gonçalo:
Lembro-me de quando nos conhecemos. Lembro-me tão bem que podia fazer um retrato teu se quisesses. Lembro-me de cada cabelo dourado. Lembro-me dos olhos azuis tão puros. Lembro-me das covinhas da tua cara quando rias. Lembro-me da inocência que sempre espelhaste, presente na tua cara. Lembro-me.
Lembro-me das nossas conversas. Lembro-me das gargalhadas. Lembro-me das lágrimas. Lembro-me dos segredos. Lembro-me das brincadeiras.
Não me lembro de quando te tornaste o meu melhor amigo. Parecia que nos conhecemos desde sempre.
Lembro-me quando me disseste que querias ser mais do que isso. O meu mundo caiu. Não era isso que eu sentia por ti. Não te queria magoar. Não te queria perder. Queria que tudo continuasse como estava. Mas disse-te que não. Disse que percebia se te quisesses afastar. E tu viste as minhas lágrimas a escorrer pelo meu rosto. E ficaste comigo a consolar-me pela tua desilusão.
Ficaste comigo durante todos estes anos. Mostraste felicidade quando as minhas paixões me faziam feliz. Consolavas-me quando sofria desilusões.
Amas-te-me em silêncio, sem coragem para me mostrares que estavas a sofrer. Cada vez que eu vinha feliz por causa de um novo amor. Cada vez que falava dele com entusiasmo. Tentavas mostrar que já me tinhas esquecido. Eu sabia que não era inteiramente verdade, mas era muito egoísta para te mandar afastar uma segunda vez.
E no dia em que foste embora, o meu mundo desabou. Chorei, chorei, chorei. Chorei como nunca tinha chorado na vida. Porque tu não estavas comigo para me consolar.
No dia do teu funeral, já não conseguia chorar. Sabes? Já não ia a uma igreja à muito tempo. Já tinha perdido toda a minha fé. E não conseguia ouvir o padre. Não conseguia tirar os meus olhos de ti. Procurava alguma coisa, não sabia bem o quê. Mas o teu rosto estava diferente. Pensei. Percebi. Faltava a tua inocência. Tu não estavas ali.Aquilo não eras tu. Era um corpo.
Percebi outra coisa. Percebi que tu sempre tinhas estado correcto. Que aquilo que tinhamos era mais que uma forte amizade. Aquilo era Amor. Tu eras o tal. Mas eu não estava pronta para te encontrar. Não estava pronta para encontrar o verdeiro amor. Um amor tão subtil, tão maravilhoso, tão cruel, tão bondoso... Perdi-o por causa da minha inconsciência.
Mas agora sei. Agora percebo. Agora já não procuro mais. Agora já encontrei.
E tomo uma decisão aqui. Vou ter contigo, está bem? Eu sei que ainda me queres. Sei que sentes a minha falta. E já não tenho medo de ir. O teu corpo ensinou-me que há um futuro. Que a vida é depois da morte.
E sei que guardas um lugar para mim aí. Aí onde a Julieta encontrou o Romeu. Aí onde as histórias trágicas têm um final feliz. Aí no Paraíso.
Espera por mim,
Inês.

1.09.2010

Querido P.

Querido P.

Sabes? Tenho andado estes anos todos a tentar perceber as pessoas; a tentar perceber os seus risos, os seus choros, os seus gritos, os seus comportamentos.
Primeiro observava-as de longe. Via-as rir. Via-as chorar. Via-as gritar. Via a maneira como se comportavam. Mas não cheguei a conclusão nenhuma.
Depois comecei a interagir com elas. Falava sobre o que elas falavam. Ria-me do que elas riam. Gritava quando elas gritavam. representava bem o meu papel e por um momento pensei que eramos todos uma companhia de actores a enganarem-se uns aos outros. Mas eu sabia que me estava a escapar algo.
Depois chegaste tu. Com aquela maneira subtil ensinaste-me a rir. Ensinaste-me a chorar. Ensinaste-me a viver sem representar.
E abriu-se um mundo novo. As coisas tinham outro sabor. A vida tinha mais cor.
E depois entendi. Não se pode perceber as pessoas, temos de as sentir.

Obrigado por teres senti comigo.